Os quatro elementos do Hip-Hop: falta integração?

O Projeto Cult.iva nasce a partir de uma percepção dos idealizadores: a escassez de eventos que se proponham a integrar os elementos da Cultura Hip-Hop. Dessa forma, uma base que sempre norteou o projeto é a construção de atividades que contemplem e integrem a produção artística e os representantes de todos os elementos. No entanto, ao longo do processo, o que antes era uma ideia impulsionadora se revelou um desafio prático. Fomos percebendo como coletivo uma dificuldade nos processos de integração desses elementos, e essa experiência foi gerando questionamentos. Afinal, se o Hip-Hop é uma cultura que já tem como base essa integração, por que temos visto os elementos pouco integrados?

Grafiteiro: UDR Dutosca na edição "DANÇAS URBANAS: De Onde Eu Vim..."(03/Abril/2023), foto: Tamara Delabela(Smile Filma)

Percepções do Cult.iva

Quando o coletivo se debruçou sobre a temática dos elementos, duas percepções opostas surgiram:

• Os elementos são coexistentes e co-dependentes

  
  

É claro que cada um deles possui suas características e linguagens próprias, no entanto, eles compartilham raízes comuns e se desenvolvem em parceria. As manifestações isoladas estão presentes, porém, no nosso aprofundamento na temática percebemos o quanto essa integração é base da essência do Hip-Hop.

• Dificuldade em gerar o interesse das pessoas que compõem um elemento pelo outro

  
  

Um dos principais desafios foi a dificuldade em despertar o interesse dos artistas de um elemento pelo outro. Muitas vezes, houve uma concentração exclusiva em sua área de atuação, em detrimento das demais manifestações culturais. Mesmo em um espaço onde os quatro elementos estavam presentes, o engajamento na interconexão foi bem baixo.

O que colabora para a falta de integração?

Um elemento, um universo

Pensar em cada elemento do Hip-Hop é considerar a existência de um universo muito rico culturalmente. Dentro da nossa jornada no projeto, especialmente no segundo ano que teve suas edições dedicadas aos elementos, pudemos perceber o quanto cada um deles possui características muito particulares. Estendendo essa reflexão para além da produção cultural em si, entendemos que cada elemento em sua singularidade cria um ambiente específico, tem seus modos de ocupar espaços, elabora seus códigos identitários e enfrenta seus desafios específicos. Isso se traduz nos múltiplos eventos que dão ênfase a um elemento como as batalhas de MC’s, batalhas de Breaking, competições de DJ’s e mostras de Grafitti. Por um lado, cria-se um espaço bem delineado de acolhimento para os artistas e amantes da cultura. Por outro, cabe perguntar: temos visto conexões e intersecções entre esses espaços?

Cantora: Lanna Grio na edição "HIP-HOP: Marcando Presença, Formando Identidades"(03/Setembro/2023), foto: Tamara Delabela(Smile Filma)

A indústria da cultura: o que nos é imposto para que sejamos vistos?

Vivemos em um mundo marcado pelo consumo desenfreado, o imediatismo e o ritmo acelerado. Essa lógica, inevitavelmente, impacta a forma como acessamos, produzimos e consumimos cultura. A mídia passa a se apropriar da cultura de maneira característica e, se por um lado, isso possibilita maior visibilidade e reconhecimento quando nos moldamos aos formatos dominantes, por outro, essa adaptação pode afastar o movimento de sua essência.

Quanto mais hiper especializamos as produções para que se tornem “adequadas” ao olhar do mercado, mais nos distanciamos da natureza integrada da cultura Hip-Hop. Essa dinâmica de consumo, somada à especialização excessiva, contribui para a fragmentação. Diante de um cenário cultural fragmentado, os elementos também se destacam de forma isolada. Seria esse um fator colaborador dessa desintegração?

Convidados e participantes na 4ª ediçãp do Cult.iva (03/Setembro/2023)

É possível integrar?

Os desafios enfrentados para se desenvolver um evento de Hip-Hop são inúmeros. Encontramos desde a falta de espaços adequados até a escassez de recursos e preconceito em relação à cultura. Olhando de forma mais ampla, nos deparamos com a influência da indústria cultural e das dinâmicas de mercado, que acabam por priorizar a visibilidade e a rentabilidade, contribuindo para a desarticulação da cultura como um todo. Parece um cenário desanimador, no entanto, pequenos passos no sentido de resgatar essa integração podem ser essenciais para que a cultura se expanda e ocupe espaços de direito mantendo sua essência e característica de resistência. E vocês? O que observam quando se trata da integração dos elementos? Deixa seu comentário e conta da sua experiência pra gente!