As Minas na Cena e no Mundo: um pouco mais do primeiro Cult.iva
- Cultiva Cultural
- 30 de abr.
- 3 min de leitura
O Projeto Cult.iva se desenvolveu na prática com edições temáticas e, para o primeiro texto do blog, escolhemos explorar um pouco mais a reflexão a respeito do primeiro tema abordado: As Minas na Cena e no Mundo. A ideia surge a partir do reconhecimento das estruturas da nossa sociedade que perpetuam um contexto de enfrentamento contínuo para as mulheres, e no evento, buscamos compreender como essa estrutura se refletia no

movimento do Hip-Hop. A edição contou com uma série de atividades inteiramente conduzidas por mulheres, dentre elas aulas de dança, um bate-papo sobre os enfrentamentos femininos na atualidade, um sarau e uma Jam. O evento trouxe uma série de reflexões importantes, e este texto resgata algumas delas.
Desde suas origens no Bronx, nos anos 1970, o Hip-Hop surgiu como uma resposta à marginalização social, tornando-se um símbolo de resistência para comunidades racializadas e periféricas. Porém, apesar do caráter disruptivo do movimento, o Hip-Hop não está imune às contradições da sociedade em que está inserido. O machismo estrutural também se reflete no movimento através da perpetuação de discursos e manifestações que reforçam os estereótipos de gênero, a invisibilização e subestimação da arte feminina na cultura, a desvalorização do trabalho feminino na cena e julgamentos que abarcam desde a aparência até as capacidades técnicas das mulheres.
No bate-papo do evento, pudemos identificar os enfrentamentos femininos que aparecem no geral e se reproduzem na cena. Um dos aspectos mais ressaltados na conversa é o fato de que para que seu trabalho seja reconhecido, a mulher precisa de resistência dobrada. Isso porque o caminho para a conquista de espaço e validação da sua arte é sempre atravessado pela necessidade de se provar constantemente, e na maior parte das vezes sob uma avaliação mais rígida e severa do que a conferida aos homens. A cena do Hip-Hop, assim, perde sua potência de ser um refúgio e uma possibilidade de dar voz e espaço a essas mulheres, e passa a ter potencial de ser mais um cenário limitante que reproduz e reforça as estruturas machistas.
Nas reflexões do bate-papo, surgiram também considerações a respeito do que sustenta essa estrutura dentro da cena, e alguns aspectos foram levantados: as narrativas que reforçam padrões misóginos e a objetificação feminina, a exclusão das mulheres dos espaços de decisão e a dificuldade que as mesmas encontram de se consolidarem como protagonistas da cena. Ficou claro que apesar desse cenário, os recursos que as mulheres utilizam dentro da cena para se apropriar cada vez mais desse espaço vêm da própria característica de resistência da cultura. As MCs, DJs, produtoras e dançarinas têm ressignificado esse lugar, desafiando estruturas calcificadas e ampliando a representatividade feminina dentro do movimento. A resistência das mulheres no Hip-Hop não se dá apenas pela ocupação do espaço, mas também pela reconfiguração da dinâmica da cultura, e pela exigência de que o movimento cumpra, de fato, seu propósito de liberdade. Esse trabalho vem sendo fortalecido por coletivos femininos, batalhas de rima exclusivas para mulheres e eventos focados na representatividade feminina.
Um caminho que vem fortalecendo esse movimento no Hip-Hop é o da troca entre as mulheres. A partir da criação de uma rede de apoio construída através da identificação entre elas, mesmo a passos lentos, o Hip-Hop vai resgatando sua característica de resistência e sua potência de gerar pertencimento. Se o Hip-Hop é um movimento de resistência, ele precisa resistir também ao machismo que ainda o atravessa. E vocês? O que tem visto quando se trata do tema “Mulheres no Hip-Hop”? Deixem seus comentários com opiniões, dicas de conteúdo e trabalho de mulheres incríveis que vem movimentando a cena!
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